46. Mas se afirmamos que Maria concebeu Jesus por obra do Espírito Santo e também no Credo rezamos: “Encarnou-se por obra do Espírito Santo”, como afirmamos que José é pai de Jesus e não apenas que ele é o guarda de Jesus?

Antes de tudo, como já salientamos, os evangelistas chamam José expressamente de pai (Lc 2,27.33.41.43.48; 3,23; Mt 13,55). Portanto, verdadeiro pai e não num sentido redutivo e incompleto. Sua paternidade é humana e não biológica, por isso esta paternidade tem o aspecto jurídico, o aspecto afetivo e também o aspecto educativo.

Ser pai não implica apenas gerar na carne, basta lembrar hoje a moderna biotecnologia que compromete seriamente aquela paternidade que tem como único fundamento a geração, como: a fecundação “in vitro”, a gravidez do embrião numa mãe “barriga de aluguel”, sem levar em conta as especulações de lucro, ou ainda os bancos de espermas selecionados, ignorando completamente a pessoa que é denominada apenas de “doador”.

Podemos afirmar com Santo Tomás que “José é pai de Jesus do mesmo modo como é entendido esposo de Maria, sem a união da carne, mas pelo vínculo do próprio matrimônio”. José teve um relacionamento com Jesus muito mais intenso do que um filho adotivo fora do casamento.

É importante salientarmos que Cristo nasceu do Espírito Santo não como Filho, por isso Santo Tomás afirma que não se pode dizer que Cristo foi propriamente “concebido do Espírito Santo, mas sim por obra do Espírito Santo“, tudo isso pelo amor de Deus por nós. Este amor e dom de Deus por nós, no Espírito Santo tem uma peculiaridade. De modo analógico, também em São José, o qual foi profundamente envolvido no mistério da Encarnação a ponto de ser considerado por Francisco Suárez como pertencente à ordem da união hipostática.

“O Espírito Santo que honrou José com o nome de pai”, como afirmou Orígines, não excluiu a sua parte, esvaziando assim a sua paternidade. Enquanto Maria recebia um coração de mãe, o Espírito Santo formava em José um coração de pai.